sexta-feira, 12 de novembro de 2010

¿qué pasa?

no pasa nada
en quererte o no, vivo sola
sin duda, quiero que te vayas
para cielos muy lejos donde
no pasa nada

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

perda; perdão.

Sentia um nó na língua. O sabor do Pisco Sauer mantinha aquilo travado. A vista embaçada e abraçada pelo exalar do álcool o deixava cada vez mais consciente de que as luzes do Eixão se formavam em ‘vê’ logo à frente. Não pensava em mais nada. Era como n’um péssimo filme com um péssimo ator; bêbado, de fato. A embriaguez o fazia lembrar de sentimentos que ela não o deixava sentir – Pára o carro, vou sair. Depois da frase, mais silêncio. Ele não dissera nada que a fizesse voltar atrás, a queria longe dali, mas ao mesmo tempo gostaria de ainda sentir o que aqueles belos olhos o faziam sentir. Em seguida, viu-se em um retrocesso de sentimentos inúteis, mágoas amarguradas por um amor mais forte do passado. Nada ali valia a pena mais e deixou-a partir, no meio da avenida mortal e deserta. Ao ouvir o som da porta do carro, percebera o que havia acontecido e num estalar de dedos se deu conta de que o que tinha partido sem sequer dizer adeus era a felicidade que pegara carona.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

everlasting love is a lie.

os olhos afundados em lágrimas destoam o mesmo sentimento de culpa que já era pra ter passado. a porta do armário desenhada precisa de um novo papel de parede e a pasta na gaveta com o pouco que sobrou, deve ser esquecida. preferir ficar muda e surda não é uma boa opção, mas bem que poderia ser quando queremos sumir desse mundo e não lembrar mais uma vez o que significa amor.

terça-feira, 20 de julho de 2010

grandpa.

Eu nunca tinha ouvido o som da UTI.
Lavei as mãos com um sabão pegajoso, sequei e coloquei as luvas. Procedimentos básicos de visitantes do local. Era um corredor com baias como as de um filme de emergência médica. Os leitos bem próximos uns dos outros, um som de aparelhos que faziam uma melodia até agradável para quem passasse por lá uma vez na vida. Mas não pude crer que lá estava meu avô. “Leito 12, à direita” – disse o rapaz que ficava numa espécie de mesa de escritório, conversando às risadas com uma enfermeira que não cansava de tentar conquista-lo. Vejo no primeiro leito que passei uma senhora bem obesa, cabelos brancos, numa situação bem triste. Cheguei a cogitar que poderia ficar daquela forma caso eu não me cuidasse, mas sei que vou morrer dormindo. Olhando para a direita logo vi meu vôzinho. Ele estava magro, quase irreconhecível. Quando me viu, chorou... eu disse “Oi vô! Oi vôzinho, vim te ver... sua benção?” Ele tentou levantar a mão para pegar na minha, abaixei a cabeça perto da cama, tirei a mão dele de dentro do lençol e beijei-a. Não resisti e chorei junto, interrompida por uma voz “Com licença, coloque o capote por favor?”. Era a enfermeira que cuida do meu avô. Aproveitei e perguntei como ele passou o dia, ela disse, se voltando a ele: “Seu Januário? Ta ótimo, né seu Januário?”. Meu avô não respondia, só mexia os lábios, balbuciando algo que não compreendi. Olhei firme pra ele e percebi que perguntou sobre meu pai e logo em seguida sobre minha mãe, consegui ler aqueles lábios já flácidos e sem estrutura. Perguntei se soube que tinha escrito um livro, ele disse que soube. Fiquei feliz que podíamos ao menos nos comunicar dessa forma no mínimo incomum. Ele não parava de chorar, eu também não. Fiquei fazendo um carinho na cabeça dele e disse que teria que ir porque minha mãe ia subir para vê-lo, sobe um por vez.
No mais singelo mexer de lábios ele disse “Vai lá, te amo minha filha”.
Tirei o capote, virei as costas para o leito e saí pelo corredor, tentando me conter. Desabei quando saí, abracei forte minha mãe que disse que ele está melhor, que estamos felizes com isso e que ele voltaria para casa.
Mesmo assim, aquele som ficou na minha cabeça, mas espero nunca ouvi-lo novamente.
Meu avô já está na Enfermaria.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

tormenta.

já não acredito mais nos céus brilhantes de estrelas
ou nas memórias mais especiais que tenho
estou descrente do que é real e intenso
e já nao quero mais esse amor, entenda
de uma só vez que prefiro a solidão,
a madrugada, o meu pensamento,
a minha tormenta.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

cegueira.

a neblina inebriante
embrulhada em meus abraços
uma parte, só a metade
do que vemos a meio passo.


sexta-feira, 28 de maio de 2010

um breve sorriso.

os olhos abertos, assutados com aquele passado tão sombrio e ao mesmo tempo lúcido: bem ali na minha frente. os motivos para o êxtase perplexo e pasmo já não cabem mais em nenhuma outra cara lavada, afinal, já se passaram tantos anos desde o último sorriso sincero. a saudade evaporou como ácido corroendo carne e o que preenche todos os espaços que ela cabia estão, agora, vazios. o vago olhar do adeus já não atormenta mais, nem mesmo a presença maciça de algo que significou tanto e que hoje são apenas lembranças de um passado escorrido, corrompido. era pra ser tudo tão diferente e ninguém vai dizer o contrário. o avesso virou do avesso e o sentimento continua ali, sem rumo, sem tradução, sem sequer um pedaço dos nós desatados, agora enrugados e cansados, do que éramos nós.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

segunda-feira, 29 de março de 2010

rumo.

hoje fez um arco-íris no céu, depois daquela chuva. não sei se viu, mas lembrei das coisas simples: do beijo na testa e da carícia nos cabelos, entrelaçando os dedos pelas longas mechas; deslizando pelas brechas do meu olhar perdido, perdidamente pelo seu. olhando fixamente com aqueles olhos arregalados, falando pertinho da minha boca, me deixando sem graça e levantando meu queixo para um beijo enlouquecido do que não conheço, do que me falta saber.
não sei quem é você.

quinta-feira, 11 de março de 2010

alvorada.

de pé - o céu acima de nós, o café quente.

nada mais pertence aos dois,
sequer o amor dormente.

quarta-feira, 3 de março de 2010

agudo.



o lixar das unhas
as unhas no quadro negro
o negro no branco
uma alma branca vagando
um vago sorriso
um sorriso listrado, fluindo
o fluido nu do vazio
o vazio enxarcado de ruas
as ruas repletas de amor
o amor e espinhos
os espinhos solitários
a solidão no ardor
o ardor do delírio
o delirante abismo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

sobre sobriedade.

não sinto raiva, só pena.
que consome a amargura
que destrói a coisa pura
da fidelidade infiel -
a amizade serena.

não por alguma culpa.
que as escolhas digam
que os valores façam
da história torta -
as linhas cheias e retas.

os pensamentos sóbrios
o coração escuta.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

um silêncio.

não cabe mais nada nesses bolsos abotoados e vazios, estão cheios de um passado ínfimo. tudo que queria era achar um pedaço de mim mesma - da minha alma que vaga a esmo nas ruas cálidas desse deserto infinito.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

derrete.


por um segundo achei minha sorte
indo embora daquele velho cais
me deixando, se esvaindo
desse corpo cansado, enrugado
enxarcado de futuros quebrados
numa tentativa de plano fugaz.
a minha maré tá muito forte
tá tão forte que não há peixes
já desisti de procurar por eles
e já não me aguento mais.

a maré tá forte demais.


sábado, 23 de janeiro de 2010

ojos cerrados.

dormir na solidão, chegar perto do escuro e tocá-lo sem sentir que o amanhã é tão escuro quanto a solidão dormente.